quinta-feira, 2 de junho de 2011

O CORINTHIANO - TAL PAI, TAL FILHO

Não sei dizer desde quando sou corinthiano. Quando me conheci já era. Mas eu sei exatamente o por quê da coisa. Meu pai. Ele nunca me levou ao estádio, nunca me comprou uma camisa do time, nunca me ensinou a cantar o hino, nunca me disse uma escalação, nada. Talvez porque ele mesmo nunca fora ao estádio, nem teve uma camisa, acho que não sabia cantar o hino e acredito que nunca soube a escalação do time algum dia. Mas era corinthiano de coração e isso eu soube desde que comecei a entender as coisas do futebol.
Eu era apenas um garoto nos anos 70 e as coisas não eram nada boas para o Corinthians naqueles dias. Havia muito não ganhava nenhum título importante e meu pai sofria como qualquer corinthiano da época. E foi assim, por solidariedade a meu pai que me tornei corinthiano também. Os garotos da escola, do bairro e até meu irmão que era santista zombavam de mim porque meu time não ganhava títulos. Não era fácil a vida de um corinthiano naquele tempo. O único título de que me lembro foi de um tal torneio Laudo Natel que não tinha valor algum ante os títulos dos campeonatos paulista, brasileiro, libertadores da américa e mundial que os concorrentes vinham ganhando. Mas eu não me importava, se meu pai sofria e suportava, eu também podia fazê-lo, afinal, eu sentia que algum dia a gente seria campeão. E foi em 77 que o tão esperado título chegou, após 23 anos de espera. Meu pai ficou feliz, claro, e eu também. Comemoração juntos nem pensar. Ele era um tipo reservado, de poucas palavras, sisudo quando estava em casa e não demonstrava nenhuma espécie de sentimento afetivo. Fora de casa contava piadas e fazia os outros rirem, adorava uma festa. Nunca entendi seu comportamento e não tinha a oportunidade de perguntar nada porque não havia diálogo, não era possível dizer-lhe que o amava e jamais ouvi de seus lábios que me amava, mas eu sabia que de alguma maneira tínhamos amor um pelo outro. Eu ficava feliz quando o via feliz e ficava triste quando ele estava triste.
Os anos se passaram e muitos outros títulos comemoramos, mas nunca juntos. O máximo que eu conseguia quando ligava para falar com minha mãe e ele atendia era dizer – e aí pai, campeão de novo hein – e ele falava – pois é – e chamava minha mãe ao telefone. Ele se foi no ano 2000, justamente quando nosso time ganhou o título máximo, o mundial da Fifa. De lá pra cá foram muitas alegrias até o ano passado, 2007, quando nosso glorioso timão fora rebaixado para a segunda divisão do campeonato brasileiro. Ainda bem que meu pai não viu senão ele iria sofrer e eu sofreria em dobro, por mim e em solidariedade a ele. Mas senti falta por não poder comentar com ele esse fracasso, mesmo sabendo que ouviria apenas um “pois é”.
Eu nunca disse a ele que era corinthiano por sua causa, mesmo assim o agradeço porque aprendi com ele a amar o Corinthians e a paixão de um corinthiano é uma coisa inexplicável. A frase “nunca vou te abandonar” criada pelo departamento de marketing após o rebaixamento à segunda divisão já vive em mim desde sempre, que comecei a amar esse time na pior época de sua história Talvez em minha cabeça de menino e mesmo agora de homem eu acredite que ao demonstrar meu amor pelo time do coração de meu pai, ele, de alguma maneira, entendia que essa era a minha forma de dizer que o amava também.
Por isso, para mim, ser corinthiano é uma questão que vai muito além do futebol, tem a ver com o desejo de ter algo em comum com uma pessoa que me era muito importante mas que de alguma forma, sem explicação, me era inacessível: meu pai. Pois é!

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